terça-feira, 19 de março de 2024

Renan Bernardo é indicado ao Nebula 2023

A Science Fiction and Fantasy Writers Association (SFWA) anunciou na semana passada os finalistas do 59º Nebula Award, prêmio que reconhece a excelência dos trabalhos de ficção científica publicados em língua inglesa no ano anterior na opinião dos seus associados. 
Este ano, a novidade é a indicação do trabalho de um autor brasileiro na categoria Noveleta. Trata-se de “A short biography of a conscious chair”, de Renan Bernardo, publicado na web magazine Samovar e disponível para leitura aqui
Renan Bernardo é escritor e tradutor, nascido no Rio de Janeiro em 1988. Sua estreia aconteceu em 2015 na plataforma Wattpad, com a novela A sala do tempo. Teve contos publicados no fanzine digital A Taverna (2019) e na antologia digital Como aprendi a amar o futuro (Plutão, 2023), bem como a noveleta O rio que passou em minha vida, publicada digitalmente em 2021 pela editora Dame Blanch. Foi finalista do Prêmio Odisseia 2020 e do Prêmio Argos 2020. A partir de então, passou a escrever em inglês e teve trabalhos publicados pela Tor.com, Apex Magazine, Podcastle e outras. 
Os vencedores do Nebula 2023 serão anunciados no dia 8 de junho, em Pasadena, Califórnia, com transmissão ao vivo pela internet.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Lançamento: O senhor da morte, a rainha da vida, Homer Eon Flint

O senhor da morte, a rainha da vida
(The lord of death and The queen of life) é o novo título da coleção Andarilhos, clube de assinaturas da Editora Andarilho dedicado à publicação mensal de livros de bolso de ficção fantástica clássica e inédita, de autores pouco conhecidos. 
O volume reúne duas noveletas publicadas originalmente em 1919, ambas do escritor americano Homer Eon Flint (1888-1924) que, antes de entrar na carreira literária, foi roteirista de cinema. O autor não publicou muito, contudo, pois morreu em circunstâncias misteriosas, em um acidente com um automóvel roubado. 
Diz o texto da quarta capa: "Em uma nave em formato de cubo, quatro profissionais de áreas diferentes embarcam em viagens interplanetárias. Durante a jornada, os tripulantes descobrem diversos mistérios envolvendo os intrigantes planetas Mércúrio e Vênus, e se arriscam para entender a sociedade alternativa desses mundos."
O livro tem 268 páginas, tradução de Gustavo Terranova Aversa e, junto ao volume, os assinantes recebem, além de um marcador de páginas personalizado, um cartão postal do planeta Mercúrio.
Os livros do Clube Andarilhos são comercializados inicialmente por assinaturas, mas após algumas semanas são oferecido para venda no saite da editora, aqui.

sábado, 16 de março de 2024

O enigma do dragão, Robson Muniz

Um modelo editorial viabilizado pelas plataformas de auto-edição é a publicação de contos independentes, algo similar ao que no mercado fonográfico é conhecido como single. São volumes com apenas um conto curto ou pequena novela, que dificilmente ganharia publicação avulsa em formato impresso comercial. 
Algumas editoras chegaram a explorar o potencial do formato publicando dessa forma os contos de antologias publicadas em formato impresso, mas a coisa não foi adiante, sinal que não deve ter sido muito lucrativo para elas. Os leitores geralmente preferem romances longos, e já é bastante difícil para as editoras venderem antologias, o que não se dirá de contos avulsos. Mas a dinâmica permite que autores independentes lancem seus próprios trabalhos sem passar pela ortodoxia dos trâmites editoriais e, dessa forma, obter respostas mais imediatas de seu público. 
Este é o caso do conto de fantasia medieval O enigma do dragão, de Robson Muniz de Souza. 
Diz o texto de apresentação: "O menino Carlos é mandado como presente para um dragão por um rei ganancioso, ao invés de devolver o tesouro roubado. Porém, o dragão fica furioso com a atitude do rei e quer destruir tudo, mas Carlos implora ao dragão para não o fazer, então o dragão propõe um enigma ao menino, e se conseguir resolver, não irá destruir seu vilarejo." 
O enigma do dragão tem 14 páginas e pode ser adquirido aqui.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Conexão Literatura 105

Está disponível a edição de março do periódico eletrônico Conexão Literatura, editado por Ademir Pascale, dedicado à divulgação de novos autores e obras da literatura brasileira. 
A edição tem 121 páginas e traz contos de Roberto Schima, Luciana Simon de Paula Leite, Idicampos, Ney Alencar, Iraci J. Marin, Mírian Santiago, Mònica Palacios e Sellma Luanny. Também traz entrevistas com os escritores Adriana C. A. Figueiredo, Fernando Carvalho, Fernando Sypriani, Antoine de Bourj Hammoud, além de poemas, crônicas, resenhas e artigos de assuntos variados.
A revista tem distribuição gratuita e pode ser baixada aqui. Números anteriores também estão disponíveis.

quarta-feira, 13 de março de 2024

A ampulheta quebrada, de Miguel Carqueija

Novela de fantasia e mistério do veterano escritor carioca Miguel Carqueija, publicado pelo próprio autor em formato de arquivo de texto na plataforma Recanto das Letras.
Carqueija é um autor prolífico, que já publicou centenas de trabalhos, tanto em formato impresso quanto digital, e desde há alguns anos vem praticando sua ficção nesse formato incomum mas bastante eficiente. 
Diz o próprio autor sobre a obra: "Lotar Camarral,conhecido e veterano detetive particular, é procurado pelo amigo Paul Conrado e pela elfa Ariel Lux, para investigar o misterioso assassinato do mago Ártemis Olovino, da Irmandade da Sombra Persistente. O crime se dera em Bolônia, no Castelo de Festas Iguatemi, durante uma festa com centenas de convidados. Detalhe preocupante: a espada mágica de Ártemis, aparentemente utilizada para o crime, desaparecera. O corpo foi encontrado na biblioteca e perto dele encontrava-se uma ampulheta quebrada e com parte de seu conteúdo derramado. Um desafio e tanto para um grande detetive porém Lotar, sem dispor de poderes mágicos, conseguirá resolver caso tão complicado?"
O texto pode ser baixado gratuitamente aqui. Dezenas de outros textos do autor estão disponíveis na mesma plataforma.
Imagem: Anaterate, Pixabay


terça-feira, 12 de março de 2024

Lançamento: O vazio e sei lá o que mais..., Ricardo Celestino

Se você estiver pronto para uma experiência literária em ficção fantástica que vai muito além da literatura, então O vazio e sei lá o que mais... é o livro que vai causar experiências sensoriais tão incomuns quanto imprevisíveis. Trata-se de uma coletânea de contos concretistas com muitas experiências formais surpreendentes, que fazem deste um quase livro de artista.
A obra é do escritor paulista Ricardo Celestino, autor dos elogiados romances Até que a brisa da manhã necrose teu sistema (2021) e Banho de sol (2022), que decidiu criar seu próprio selo editorial, o Necrose, para dar forma a esta inusitada iniciativa literária. 
Diz o texto da orelha, de autoria de Oliveyra Daemon: 
">>>o ficcyonista Ricardo Celestino reaparece em cena kom esta coletänea demonyaca
>>>são textos absurdamente insölitos & yrreverentes, em que as byzarrices de nossa vyda socyal caötica surgem sem mäscaras nem falso pudor
>>>tudo ë vertyginoso na LYTERATURA-ARTE de Ricardo Celestino: os diälogos entrekruzados, as digressöes filosöficas, as tyradas satyricas, as typologias e a diagramaçäo nada konvencional que rapydamente se tornaram sua marka regystrada {basta a gente bater o olho em qualquer pägina de seus lyvros pra imedyatamente rekonhecer a autorya}
>>>se vocë kurte apenas lyteratura realysta-naturalysta, rekomendo que vä prokurar noutra freguesya, porque as päginas delyrantes desta coletänea säo a necessäria reserva florestal brasuka da prosa-de-invençäo, um ecossystema em konstante perygo de extinçäo yntelectual
>>>O VAZIO E SEI LÁ O QUE MAIS..., vocë logo verä, ë o territörio das emulaçöes & simulaçöes do ynfamiliar, do estranho, do grotesko, ou seja, de tudo o que desestabyliza o chatyssimo senso komum
>>>Ricardo Celestino subverte näo somente a lynguagem tradycional mas também o cardäpio de assuntos, trazendo para o palco de nossa ficçäo os temas mays contemporäneos {das cryses do antropoceno aos dylemas do pös-humano}, denuncyando a atual MAQUINIZAÇÄO da psikologia e da socyedade na era da engenharya genëtica e da inteligëncia artyficial
>>>entäo, kamarada? estä esperando o quë? näo resysta ao transe apocalyptico!
>>>receba em teu coraçäo as alegryas e as perversöes do glorioso-tecno-tudo-tecno-Deus, aceyte em tua mente-carëncia e em teu templo-korpo as delycias do sagrado meta-orgasmo, näo tenha medo de explorar o nevoeyro fyninho da casa mal-assombrada, desabroche acümulos, saboreye abysmos, näo deixe de aprecyar {via ciber-bidu} os mays yntimos segredos escondydos no famigerado epigástrio, e as vysceras bagunçadas, mysturadas no mosaico-caos-urbano kriado pelo fachonazidealista…
>>>Ricardo Celestino é o melhor de doys mundos endyabrados: no plano do enredo ele dyaloga kom Fausto Fawcett, Veronica Stigger & Rafael Sperling e no plano da lynguagem kom o Decio Pignatari da espetakular coletänea O ROSTO DA MEMÓRIA.
>>>entäo, kamarada? estä esperando o quë? näo resysta ao transe apocalyptico! mergulhe AGORA MESMO nesse vazyo celestyno".
Nem preciso dizer mais nada. 
O livro tem 108 páginas, a capa é assinada pelo cartunista Fernando Marcatti e a produção editorial é da Editora Patuá.  

sábado, 9 de março de 2024

Resenha do Almanaque: A todo vapor

A todo vapor
, Enéias Tavares e Felipe Reis. Série de tv com oito episódios. Produção Cine Kings & Brasiliana Steampunk, 2020. 

Muitos autores do fandom brasileiro de fc&f já tiveram oportunidade de ver suas criações em live action, na verdade isso nem é tão incomum mas, geralmente, são filmes de curta ou longa metragem, e sabemos que, assim como a literatura, o cinema nacional tem dificuldades históricas em impor-se no mercado interno. Mas ainda pior é a situação da fc&f nos seriados de televisão, que raramente obtiveram espaço, exceto como alguma bizarrice nas novelas, geralmente de viés cômico. Mas há algum tempo se tem experimentado propostas mais dramáticas, como as séries Animal e 3%.
O sucesso desta última em especial animou o mercado nacional a se aventurar em mais produções no gênero, como O escolhido (2019, Netflix), Onisciente (2020, Netflix) Spectros (2020, Netflix), Desalma (2020, Globlo Play) e Cidade invisível (2021, Netflix). Contudo, todas estas produções guardam ainda uma respeitável distância dos autores do fandom. Mesmo O escolhido, que teve roteiros de Raphael Draccon e Carolina Munhóz – autores que de certa forma estão vinculados ao fandom –, foi adaptada de uma série mexicana chamada Niño Santo (2011), ou seja, não é uma história originalmente nacional e os autores brasileiros envolvidos são apenas um acidente. Por isso é que A todo o vapor (2020, Amazon Prime) merece este destaque. 
Trata-se de uma série de ficção científica bastante original pois se identifica com a estética steampunk, subgênero da ficção científica que pressupõe que, em algum momento no século XIX, ocorreu uma revolução científica que antecipou a era tecnológica ainda no período da máquina a vapor. O romance inaugural dessa linha foi A máquina diferencial (1990), de Bruce Sterling e Willian Gibson, no qual o computador mecânico idealizado por Charles Babbage teria sido efetivamente realizado, estabelecendo o florescer da revolução digital em plena Era Vitoriana. O estilo acabou por estabelecer todo um padrão estético que une o vestuário característico do final do XIX, com cartolas, fraques, bengalas, relógios de bolso, polainas, vestidos bufantes e espartilhos, convivendo com traquitanas tecnológicas com muitas engrenagens e parafusos a mostra. 
No rastro da moda, surgiram no Brasil uma série de grupos de fãs que, devidamente paramentados, se reuniam em eventos especiais para exaltar o steampunk como um estilo de vida. Com o movimento, vieram também os fanzines eletrônicos, sites, clubes e autores, dentre os quais Enéias Tavares, escritor gaúcho de Santa Maria que, em 2014, publicou pela Editora LeYa o romance A lição de anatomia do temível Dr. Louison, que apresenta uma história movimentada na qual personagens da literatura brasileira, como Simão Bacamarte, Solfieri, Isaias Caminha, Rita Baiana e Pombinha, têm de enfrentar muitos perigos para capturar um psicopata assassino. A ele, seguiu-se Juca Pirama: Marcado para morrer (Jambô, 2019) e Parthenon Místico (Darkside Books, 2020), todos ambientados no mesmo universo. O enredo de A todo vapor é baseado nessas histórias e se passa exatamente após os fatos narrados no segundo livro. O próprio Tavares se responsabiliza pelos roteiros. 
A primeira temporada de A todo vapor conta com oito episódios de vinte minutos cada. Ambientada em 1910, narra a história de um grupo peculiar de detetives do sobrenatural que vai à Vila Antiga dos Astrônomos, vilarejo imaginário localizado em algum lugar no interior do Brasil, investigar uma série de crimes inspirados nas cartas do tarô. O principal suspeito é um culto de matizes lovecraftianas liderado pelo malévolo Pamu. Entre os personagens, além do próprio Juca Pirama (interpretado pelo diretor da série, Felipe Reis), estão Capitu de Machado (Thais Barbeiro), Victória Acuã (Pamela Otero), Doutor Benignus (Luiz Carlos Bahia), Bento Alves (Claudio Bruno) e Sergio pompeu (Pedro Passari). O elenco ainda conta com Bruna Aiiso, Paulo Balteiro e Yoram Blaschkauer.
A produção é modesta e teve evidentes dificuldades técnicas. Muitas carcaças enferrujadas de trens antigos (alguns movidos a diesel), um balão de ar quente com queimadores moderníssimos e a cenografia em ruas e pousadas de algum vilarejo estilo colonial contemporâneo, deixaram a ambientação repleta de anacronismos. Os efeitos especiais não são muito convincentes e é intrigante o motivo de todos carregarem óculos de soldador se nunca ninguém os usa. Há um esforço evidente para ampliar a representatividade, com mulheres assumindo a linha de frente nas lutas e até cenas de beijo entre homens, contudo, não há um único negro no elenco. As inúmeras citações a personagens da literatura, incluindo uma breve aparição da "boneca" Emília, soam mais como uma homenagem à série de quadrinhos A liga extraordinária, de Alan Moore e Kevin O'Neill, declaradamente citada numa cena, do que a uma necessidade dramática, uma vez que os personagens, além dos nomes, não carregam nenhuma característica dos personagens originais.
Mas é muito divertido ver uma produção legítima do fandom finalmente chegar ao mercado de streaming. Mesmo com toda a improvisação, passa um sentimento delicioso de identificação nunca obtido pelos demais seriados aqui citados. Tomara que tenha continuidade e conquiste recursos financeiros suficientes para melhorar tecnicamente a produção. Mas espero que nunca percam a expontaneidade desta primeira temporada, que é seu maior trunfo.