domingo, 15 de janeiro de 2012

Últimas leituras de 2011

Entre os lançamentos do final de 2011, chegaram-me às mãos três títulos interessantes.
Fiz questão de ler primeiro a coletânea de tiras Rei Emir Saad: O monstro de Zazarov, novo álbum do cartunista carioca André Dahmer. Trata-se de uma série de humor negro, na qual o dito Emir Saad, rei do Ziniguistão, mantém seu poder através de violência, tortura e crimes políticos, às vezes fazendo o tipo de rei medieval, outras o de ditador sul-americano ou de algum estado da Europa Oriental. As tiras são interessantes e devem funcionar muito bem quando publicadas num jornal diário, mas a leitura s contínua é algo incômoda. Dahmer tem se especializado em fazer graça com temas espinhosos, como em sua série de tiras mais conhecida, "Malvados", sobre as maldades cotidianas, e "Apóstolos", com críticas ao Cristianismo. O álbum tem 96 páginas em cores e foi publicado pelo selo Barba Negra da Editora Leya.
Outro lançamento recente é Brasil 1500: Segredo de Estado, de Fábio Fonseca, Andrei Miralha e Otoniel Oliveira. Trata-se de uma aventura histórica, que acontece em Lisboa entre a volta de Vasco da Gama de sua viagem às Índias e a partida da frota de Pedro Álvares Cabral. Um jovem acaba envolvido nas tramas de um espião espanhol, cobiçoso de informações sobre as novas rotas descobertas pelos navegantes portugueses. A aventura tem ilustrações competentes e um estilo narrativo algo didático. O melhor de tudo é o desprezível espião espanhol Mendoza, que estabelece todos os conflitos da história. Como já disse, a história termina exatamente no momento em que a frota cabralina zarpa do Rio Tejo, com um gancho perfeito para uma sequência. O álbum tem 48 páginas em cores e é uma publicação da Devir Livraria.
Completei minhas leituras em 2011 com o surpreendente A Liga Extraordinária: Século 1969, de Alan Moore e Kevin O'Neil, também publicado pela Devir Livraria. Depois dos excelentes volumes iniciais (A Liga Extraordinária I e II) e de ter sido obrigada a saltar a publicação do excepcional Black Dossier por conta de problemas com direitos autorais da edição original, a editora brasileira havia apresentado em 2010 o fraquinho A Liga Extraordinária: Século 1910, que não satisfez os leitores das edições anteriores. A ausência da contextualização de Black Dossiê, que não é muito esclarecida nem mesmo no resumo que acompanha a edição, deixou a história solta e frouxa.
As muitas alterações dos personagens e a dificuldade do autor em continuar a usar referências contemporâneas – que devem ter sido justamente as causas dos problemas legais enfrentados em Black Dossier – também tiraram o brilho que caracterizava a trama. Restrito às referências de domínio público, Moore e O'Neil tiveram de frear seu ímpeto criativo, fixando a história em Wilhelmina Murray e Allan Quartermain às voltas com o supervilão místico Oliver Haddo. As novas aquisições da Liga, Thomas Carnacki, Arthur Raffles e o curioso Orlando, imortal que muda periodicamente de sexo, não chegaram a empolgar. Então, a expectativa por Século 1969 não era das melhores, principalmente porque o apelo steampunk das primeiras edições certamente não estaria presente. Contudo, os autores conseguiram destacar novos caminhos para sustentar a aventura iniciada na edição anterior. Agora, uma Liga Extraordinária diluída e ilegal chega ao tempo do amor livre, da pílula e das drogas numa Londres alternativa em constante orgia. Depois das duas guerras mundiais e dos anos de ditadura do Grande Irmão, quando a Liga foi desfeita e devidamente apagada da memória oficial, Murray, Quartermain e Orlando têm uma nova chance de acabar com as armações de Haddo. O clímax da narrativa acontecendo durante um show de rock no Hide Park, em ritmo de viagem lisérgica. Os textos de apoio acrescentaram mais detalhes ao período "em branco" da Liga, de forma que a trama voltou a ganhar foco. Impossível não fazer paralelo entre A Liga Extraordinária e outra obra importante de Alan Moore, Watchmen, que também conta uma história de intrigas numa realidade alternativa com um grupo de heróis atirados na ilegalidade. Mas isso só melhora a coisa toda.
Século 1969 ainda está distante da excitação dos primeiros volumes de A Liga Extraordinária, mas já recuperou um pouco do brilho dessa que é uma das sagas mais criativas da história dos quadrinhos.

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